Whitney é a artista do mundo mais premiada, segundo o Guinness World Records, ela morreu aos 48 anos deixando inúmeras canções que retratam sua vida pessoal.
Nos dias atuais o tema dependência emocional é muito abordado e há maior compreensão do que verdadeiramente se trata. Esse vínculo doentio causa sérios transtornos para vida de quem pratica e afeta diretamente as pessoas da sua convivência. O doente nem sempre se dá conta dessa dependência, mas ela é manifesta em sua fala, seus gestos, seu dia a dia; com Whitney essa expressão pode ser notada através das suas músicas.
Foram selecionadas suas canções para desenvolver essa análise.
1º Canção: Run To You (Correr para você)
Eu sei que quando você olha pra mim. Há tanto que você simplesmente não vê, mas se você levasse somente o tempo eu sei que em meu coração você encontraria uma garota que as vezes está assustada, que não é sempre forte. Você não pode ver o ferimento em mim. Eu me sinto tão sozinha.
Eu quero correr pra você. Eu quero correr pra você. Você não me segurará em seus braços e me manterá protegida de dano? Eu quero correr pra você, mas se eu chegar pra você diga-me: você ficará ou você fugirá?
Cada dia, cada dia eu represento o papel de alguém sempre em controle, mas a noite eu chego em casa e giro a chave não há ninguém lá, ninguém se preocupa comigo. Qual a razão de dar duro para realizar seus sonhos sem alguém para compartilhá-los? Diga-me o que isto significa.
Não vá! Eu preciso de você aqui, eu preciso de você para secar minhas lágrimas, para beijar meus medos. Não se você soubesse como eu quero correr pra você, sim saber que eu quero correr pra você.
A letra fala de uma mulher que sente a indiferença, que quer ser notada em suas qualidades, revela sofrimento, medo e solidão. De uma mulher que cria uma expectativa em ser correspondida por alguém que já partiu, e se sente insegura. Na continuidade, comenta o dia a dia de uma mulher real, que após sufocar sua angústia para lidar com o dia a dia de trabalho e sobrevivência se depara sozinha, consigo mesma, e com seus medos e abandono. No final implora pela presença do outro para suprir sua carência afetiva.
Algo muito comum em relação dependentes: a necessidade de ter o outro a qualquer custo, de acreditar que só haverá saída ou alguma felicidade se aquela pessoa estiver ali, em qualquer circunstância mesmo que se não houver amor recíproco.
2º Canção: You’re Still My Man (Você ainda é meu homem)
Você ainda é meu homem. No dia que você me deixou, saindo disse que não tinha lamentado. Há um vínculo entre nós, que ainda não foi quebrado e os sentimentos entre nós nunca acabarão. Como você pode estar longe quando seu espírito está aqui?
Você ainda é meu homem, nada poderá mudar continuamos nos pertencendo. Você ainda é meu homem! Nada poderá mudar, nosso amor vai durar para sempre.
E as estações do nosso amor sempre mudam eu sei, talvez por essa a razão que você sentiu que tinha que ir, mas em breve sentirei sua falta querido, e eu sei que você também querido! Há uma magia que partilhamos com o outro e ninguém pode quebrar essa mágica.
Eu vou esperar por você! O pensamento que não me deixa cada dia acredito que ainda me ama e eu te amo mais do que palavras podem dizer.
A segunda letra fala de algo ainda mais profundo que é a possessividade a obsessão sentimental. Demonstra a mágoa do término e a aceitação do sofrimento de uma relação fracassada e sem futuro. Há uma cobrança amorosa do que foi vivido e uma tentativa de reconciliação apenas da parte que sofre. Sempre seguidos de um apelo para o vínculo espiritual e lúdico para justificar a carência e imposição de reatar uma relação. Imbuídos em uma falsa esperança de que tudo volte ao “normal”.
Geralmente quem vive subjugado em um relacionamento ignora todos os males, sofrimentos, humilhações para continuar mantendo algum vínculo, mesmo que seja um vínculo tortuoso com conflitos, mágoas e brigas. A sensação de não conseguir viver sem o outro, mesmo que este cause mal, é uma das características mais marcantes nesses casos. A pessoa se sente verdadeiramente conectada, enraizada e incapaz de continuar e/ou encontrar alguma realização se o outro não estiver mais ali.
Whitney Houston, história de vida
Uma das artistas mais famosas do mundo e uma das mulheres mais bem sucedidas, Whitney vivenciou uma grande dependência emocional. Vamos ver agora fatos marcantes da sua história relatados em documentários que foram lançados e declarações da própria artista.
Conta-se que Houston começou a consumir maconha e bebidas aos 14 anos e aos 16 começou a usar cocaína e LSD. Quando tinha dezessete anos e estava iniciando a carreira como modelo, descobriu que a mãe traia o pai com o pastor da igreja que frequentavam, ela parou de falar com a mãe e sofreu com a angústia de não revelar a traição ao pai. Decidiu então não conviver com ele e saiu de casa para morar com a namorada, Robyn. Devido a pressão, a cantora sofreu um processo de anorexia alcoólica que a atormentou durante toda a vida. Tempos depois, a mãe resolveu contar ao pai de Houston toda a verdade e eles se divorciaram.
Também é relatado que os irmãos Houston sofreram agressões pela prima Dee Dee Warwick. Esse fator teria desencadeado a depressão da artista que nunca teria comentado o caso com a família. Após revelado a mãe não acreditou na versão dos filhos e resolveu deserdá-los em seu testamento, nesse período o quadro depressivo de Whitney piorou e ela desenvolveu síndrome do pânico. O pai também foi acusado de desviar dinheiro dela, ela o processou e sofreu por ter sido roubada pelo pai.
Em 1983, quando assinou seu primeiro contrato profissional, Whitney decidiu viver sozinha para não sofrer com a investigação da imprensa caso investigassem sua vida pessoal e consequentemente descobrissem sua sexualidade, comprometendo sua carreira recém iniciada. Ela e a namorada continuaram amigas. Tentou tentou voltar para igreja, influenciada pela mãe, mas não durou muito tempo.
O marido de Whitney na época, Bobby Brown, comentou na mídia que sabia do caso passado, contou que a cantora forjou um aborto espontâneo para que pudessem se casar brevemente e ela confirmou o ocorrido, justificando que fez por medo de perdê-lo e que a mãe a pressionou para casar o mais rápido possível para ter prestígio. Bobby também revelou que sabia da bissexualidade de Whitney e que sempre teve ciúmes de Robyn, devido a isso tiveram muitas brigas para que rompesse o vínculo empregatício. Nos términos, a cantora se relacionava com homens e mulheres, mas sempre voltava ao marido, ela justificou dizendo que fazia para se vingar das agressões que sofria dele.
Nos anos 2000 Houston foi diagnosticada com aterosclerose, uma doença cardíaca que foi adquirida pelo uso excessivo de drogas psicoativas, a cocaína junto ao uso abusivo de álcool e sedentarismo, danificou suas válvulas cardíacas. Devido a isso, ela sofria com tonturas, falta de ar, fortes dores de cabeça, além de ser acometida por insuficiência cardíaca.
Nesse tempo, ela reduziu o ritmo da carreira e demitiu Robyn, passou a administrar seu patrimônio para combater a estagnação.
Whitney e Bobby tiveram uma filha, Bobbi Kristina Houston Brown, que presenciou diversas brigas com agressões físicas e verbais dos pais, além de ter presenciado o desenfreado consumo de drogas, incluindo crack e heroína. O pai costumava pichar as paredes da mansão com ameaças de morte a esposa, que por sua vez ingeria drogas, bebidas e barbitúricos trancada no banheiro onde tentou suicídio se cortando.
A cantora revelou a Oprah Winfrey que conseguia drogas facilmente, o traficante se passava por fã, pedia um autógrafo e na caneta estava a droga, ela guardava discretamente e ia até o banheiro para consumir. Na ocasião revelou que não imaginava que teria tanto sucesso e lamentou não conseguir acompanhar o crescimento da filha e o fracasso por não conseguir manter uma família comum. Ela ainda acrescentou que o marido se incomodava com o fato dela ser mais bem sucedida do que ele e que por muitas vezes ela se diminuía para que ele se sentisse melhor, mas que não dava tão certo; confessou que era agredida até sangrar quase todos os dias e que cobria com curativos e maquiagem. Bobby cogitou que ela largasse a carreira para viver exclusivamente para família. Whitney confessou que o marido se tornou sua droga, que por mais que tentasse, não conseguia deixá-lo e acreditava que ele mudaria e seria uma pessoa melhor.
Com o passar dos anos, o casal passou a viver em quartos separados e só se reuniam para consumir drogas. Nos períodos de depressão agravada, a cantora passava um mês trancada no quarto, enquanto ouvia música, lia a bíblia, chorava e se drogava – tinha em grande quantidade guardada. Houveram tentativas de reabilitação e desintoxicação onde ela conseguiu passar seis meses sem consumir drogas, mas recaia e voltava a se drogar com frequência.
Bobbi Kristina apoiou a mãe durante o divórcio que aconteceu definitivamente em 2007, depois de 14 anos juntos. Whitney saiu de casa junto com a filha.
Bobbi Kristina, quando tinha quinze anos, tentou dar uma facada na mãe por ter sido proibida de sair com os amigos. Ela se arrependeu logo em seguido e tentou suicídio cortando os pulsos, repetindo o modelo da mãe, e ficou semanas internadas numa clínica de psiquiatria. Nesse mesmo período Houston descobriu que a filha estava usando drogas e a forçou a morar com o pai, logo depois ela foi morar com a avó. Voltaram a morar juntas mas não durou por muito tempo.
O diagnóstico de enfisema pulmonar e nódulos nas cordas vocais, causados pelo tabagismo, chegou em 2011 e a afastou dos palcos para início de um longo tratamento médico. A doença causou alterações sérias na sua voz, tornou densa e levemente rouca e o público promoveu reclamações, o que a deixou muito deprimida. Ela então passou a negligenciar o tratamento e a consumir mais drogas e álcool, a displicência desencadeou uma insuficiência respiratória grave.
O último relacionamento de Whitney Houston foi com o cantor Ray J, dezoito anos mais jovem, que casou preconceito e polêmica principalmente por parte da família de Houston. O relacionamento foi muito conturbado, ambos usavam drogas e álcool, eram vistos em bares e boates, terminavam e voltam muitas vezes e houve históricos de agressão. Houston brigou com muitas mulheres nas noitadas por ter muitos ciúmes do namorado. Os dois chegaram a terminar definitivamente, mas ele a ameaçou com imagens e gravações íntimas que poderiam ser expostos na internet caso ela não o aceitasse. Intimidade, ela reatou mesmo com a família da cantora o processando por ameaça e difamação.
Houston estava no auge da depressão e fazia tratamento psicológico e psiquiátrico com antidepressivos e ansiolíticos. Ela se isolou de familiares e amigos e abandonou a psicoterapia e a igreja que frequentava desde a infância. Ela contou em uma entrevista que quando orava a ideação suicida e a compulsão por drogas e álcool iam embora, mas que voltavam logo em seguida.
No dia 11 de fevereiro de 2012, a cantora Whitney Houston, foi encontrada morta no Hotel Beverly Hilton, em Beverly Hills na Califórnia. O Departamento de Medicina Legal de Los Angeles divulgou que a causa oficial da morte foi afogamento acidental, a autópsia constatou que o septo nasal da cantora estava perfurado e que havia ingerido grande quantidade de barbitúricos e xarope para tosse nos últimos três dias antes da morte, o que a deixou mais sonolenta que o normal podendo ter contribuído para o tombo que a fez cair na banheira, de frente para água.
Três anos depois, no dia 31 de janeiro de 2015, Bobbi Kristina foi encontrada inconsciente no banheiro de sua casa, ela foi levada com vida para o hospital, ela foi diagnosticada com pneumonia e teve uma overdose por uma mistura de cocaína, morfina, ansiolíticos e álcool, Bobbi sofria de depressão após a morte da mãe. Foram encontradas lesões e hematomas graves pelo seu corpo. Ela foi entubada em coma induzido onde permaneceu por seis meses. Bobbi não resistiu e morreu no dia 26 de julho do mesmo ano, com 22 anos. Ela foi enterrada do lado da mãe em New Jersey. A morte foi dada como inconclusiva, especula-se se foi uma tentativa de suicídio ou assassinato pelo namorado da época.
Encontrando Superação e Tratamento
Existem inúmeros canais em redes sociais, como YouTube, Facebook e Instagram que criaram grandes grupos de apoio e aconselhamento para essas situações. Alguns grupos disponibilizam de auxílio psicológico e advocatício para atender as demandas emocionais e jurídicas que envolvem um desligamento matrimonial.
Homens e mulheres passam por dependência emocional e relacionamento abusivo. Esse tipo de relação envolve controle, domínio, insegurança, depressão, crises de ansiedade, brigas e muitos desgaste. Não é saudável para nenhum dos dois.
A pessoa, psicologicamente, doente passará por um longo processo de conscientização, aceitação e ressignificação, para finalmente se desprender de um relacionamento abusivo e submisso. Mas isso é possível e alcançável.
Na psicoterapia essa pessoa será redirecionada, compreenderá os seus próprios anseios e traumas, encontrará saídas e superação para suprir suas necessidades de maneira consciente e autônoma. Sendo si mesma o objetivo principal da sua vivência, da sua busca e dos seus objetivos.
Se você se encontra nessa situação de praticante dependente ou de vítima de um relacionamento abusivo, procure ajuda, procure apoio e se liberte dessa situação. Você pode e você é capaz.
“A finalidade da evolução psicológica é tal, como na evolução biológica, a auto-realização, ou seja, a individuação.”
– Carl Jung em Interpretação Psicológica do Dogma da Trindade.
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