Psicostasia: o que aprender com o Livro dos Mortos?

Você certamente já ouviu falar de Osíris e Anúbis, mitologicamente é atribuído a eles o julgamento após a morte. Vamos entender como isso reflete na nossa boa conduta, bons princípios e auto-reflexão.

A cerimônia realizada no tribunal da deusa Maat (responsável pelo equilíbrio cósmico, justiça e harmonia), pesa o coração do defunto acareando-o com uma pena. A pesagem do coração é realizada nas salas Duas Verdades, ou, sala das Duas Justiças, a grande balança é colocada no pedestal que tem no topo um babuíno. Nessa sala estão presentes Osíris, o deus do julgamento, no seu trono e os quarenta e dois juízes. 

O morto deve realizar a confissão negativa, que está registrada no capítulo 125 do Livro dos Mortos, este capítulo diz as frases que o morto deve confessar diante deles:

1ª Eu não fiz nada de errado;

2ª  Eu não roubei;

3ª Eu não furtei;

4ª Eu não matei pessoas;

5ª Eu não destruí as oferendas de alimentos;

6ª Eu não reduzi as medidas [dos grãos];

7ª Eu não furtei a propriedade do deus;

8ª Eu não falei mentiras;

9ª Eu não fui carrancudo;

10ª Eu não forniquei com o fornicador;

11ª Eu não fiz ninguém chorar;

12ª Eu não dissimulei;

13ª Eu não transgredi;

4ª Eu não cometi especulação de grãos;

15ª Eu não roubei uma parcela de terra;

16ª Eu não contei ou discuti segredos (não tagarelei; não espalhei segredos);

17ª Eu não provoquei uma ação judicial;

18ª Eu não disputei propriedades;

19ª Eu não tive relações sexuais com uma mulher casada (eu não cometi adultério);

20ª Eu não copulei erradamente;

21ª Eu não fiz [as pessoas sentirem] medo;

22ª Eu não transgredi;

23ª Eu não fui destemperado;

24ª Eu não ocultei a verdade;

25ª Eu não amaldiçoei;

26ª Eu não fui violento;

27ª Eu não distorci a verdade;

28ª Eu não fui impaciente;

29ª Eu não discuti (não duvidei);

30ª Eu não tagarelei sobre assuntos;

31ª Eu não fiz nada errado;

32ª Eu não cometi o mal.

33ª Eu não contestei o rei;

34ª Eu não profanei a água

35ª Eu não falei alto;

36ª Eu não amaldiçoei a um deus;

37ª Eu não exaltei a mim mesmo (eu não fiz auto exaltação);

38ª Eu não profanei a comida dos deuses;

39ª Eu não furtei os bolos-Khenef (oferendas) dos [mortos]santificados;

40ª Eu não furtei os bolos-Hefnu de uma criança (eu não tirei comida da boca de uma criança);

41ª Eu não prendi um deus na minha cidade;

42ª Eu não matei o gado sagrado.

Para adentrar no campo sagrado Além, é necessário ter tido uma vida de retidão, segundo os princípios da deusa. Cada um dos juízes julga cada uma das confissões. Anúbis regula a balança e Toth escreve o resultado.  

O coração é colocado em um dos pratos da balança, em outro é colocado uma pena de avestruz – representando a leveza conforme o coração da deusa Maat; caso os pratos se mantenham em perfeito equilíbrio, o morto é absolvido e poderá adentrar no Além, caso o morto minta, o coração pesará mais o levando-o a condenação. Perto da balança está a híbrida (crocodilo, pantera, hipopótamo) Ammit, a Grande Devoradora, a postos para engolir o coração, caso o coração pese. Se o coração for destruído é banida a possibilidade de ressurreição.

Se passar pela absolvição, o morto atravessa o rio Nilo com Anúbis para encontrar o deus Osíris, o deus do submundo, para que lhe fosse concedida a vida depois da morte.

Reflexão da mitologia para conduta de vida

As simbologias empregadas na teologia e na teogonia fazem parte da construção universal. Para época, em que o Livro dos Mortos foi desenvolvido, a religião estava muito avançada no conhecimento de conter a massa e educar as pessoas. Um exemplo parecido é a Lei Mosaica, com seus 613 mitzvot (mandamentos judaicos) que foi desenvolvido trabalhando as mesmas virtudes, leis e deveres para ordenar e direcionar o povo.

A religião antropomórfica do Egito, utilizou os animais como uma imagem arquetípica para aproximar a realidade e imaginário numa forma de fácil associação. Podemos observar que todos os animais representados como divindades faziam parte daquela região onde o inconsciente dessas pessoas alcançava, eles viam os animais e compreendiam a divindade.

Era comum usarem o escaravelho, com inscritos, próximo do coração como um símbolo de proteção. Acreditava-se que esse amuleto era relacionado aos conhecidos de proteção e caminhos, e ajudaria a encontrar a luz após a morte. Os escaravelhos são insetos que sobrevivem em bando e possuem ótimo senso de percepção, são capazes de encontrar o caminho em direção ao sol, mesmo que estejam no escuro. O deus Khepri, que representa o sol da manhã, era caracterizado por um escaravelho.

Se colocarmos um grupo para conviver comunitariamente sem regras, cada um a seu modo, sem ordenamento, logo aparecerão conflitos internos, necessidade de divisão, etc. Uma cúpula de poder instaurada constrói regras básicas de convivências. Para isso, precisa de um líder responsável, sincero, digno. Quando isso se corrompe e são substituídos por práticas de corrupção, roubo, sem senso de justiça, o povo e o ambiente em que vivem são empurrados para a ruína.

O povo antigo seguia líderes governamentais que também eram líderes espirituais e isso tinha uma carga de respeito. As pessoas, em todos os tempos da humanidade, buscam julgamentos e critérios para que possam se ordenar, principalmente em momentos caóticos. A lei espiritual é naturalmente temida, assim como a natureza, e isso impulsiona o homem a buscar algo maior, uma homeostase. 

Se as referências são perdidas, o ser humano fica perdido e entra em caos. Se as ordens e as regras não são seguidas pelos seus líderes de referência, o caos também se instaura.

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