Bruxas da Idade Média: Dados Ocultos da Inquisição

O que você não aprendeu sobre as bruxas.

A INQUISIÇÃO 

Inquisição é vem do latim inquisitĭo,ōnis que significa indagação e/ou investigação. Os movimentos tido como heréticos, que eram investigados na época, sofreram com a má interpretação dos clérigos que entenderam como qualquer fé ou ideais que contrariassem os dogmas do catolicismo. Heresia vem do latim haerĕsis,is e do grego αἵρεσις e significa escolha e/ou opção.

Roberto, o Piedoso, rei da dinastia capetiana, queimou doze cônegos acusados de heresia cartára, no ano de 1022. Em 1184 na região de Languedoc, França, marcou a existência de onde derivariam os tribunais futuros, lá o combate era contra os cátaros albigenses. Cátaro vem do grego katharos e significa puro. O catarismo era a crença dualista onde acreditavam que o mundo material era obra de um deus mau (ou do satã) e o mundo espiritual pertencia ao deus bom, dessa maneira consideravam como vida ideal o afastamento de coisas materiais e inclinavam-se ao desenvolvimento espiritual; crença muito comum no leste europeu entre os gnósticos.

A crença era comum em várias classes populacionais, como artesãos, mercados, membros da alta nobreza de Languedoc e alguns bispos. Quando chegou ao norte da Itália, mobilizou a Igreja Católica que iniciou um combate a heresia que se dividiu em duas cruzadas: 

• a Cruzada Espiritual (entre 1147 e 1209) que foi a tentativa de conversão por pregação e exortação realizadas por padres e excomungação. Tendo fim quando quando o papa enviou o padre Pedro de Castelnau que foi assassinado em 1208.

• a Cruzada Albigense (entre 1209 e 1229) quando o papa Inocêncio III enviou o exército para lutar contra os cátaros, período marcado por muita violência.

A conversão forçada só teve fim em 1229, quando Raimundo VII, representante do catarismo, aceitou as imposições da Igreja, tendo sido totalmente erradicado em XIV.

Criada no século XIII, na Idade Média, pela Igreja Católica Romana, a Inquisição se tratava de tribunais que julgavam os chamados hereges, uma supressão a pessoas que supostamente ameaçavam as doutrinas empregadas pela Igreja. Os acusados não era requerido saber quem foi o denunciante, só era concedido o direito de poder denunciar os inimigos. Pessoas que professam outra fé, fizeram objeções rígidas as doutrinas impostas pelo catolicismo, devido a isso foram considerados inimigos do corpo de Cristo.

Um dos primeiros escritos que promoviam a perseguição eram do abade Pedro, o Venerável, que defendeu a ideia de combate dos hereges com quatro estágios a serem cumpridos que eram: investigação, discussão, o achado e a defesa do acusado. Em 1215, o Concílio de Latrão determinou que todos os que negassem o catolicismo deveria ser excomungado e entregue as autoridades para receber punições.

O reino de Aragão, na Espanha, adotou o modelo em 1249 tornando-se a primeira Inquisição estatal com os reis católicos Fernando e Isabel de Aragão que conseguiram unificar região ibérica, Aragão e Castela e foi transformada na Inquisição Espanhola, entre os anos de 1478 e 1834, sendo controlado pela monarquia hispânica. O reino acusou os judeus diante da Santa Sé Romana de todos os males que ocorriam nos reinos espanhóis, um manual inquisitório chamado “Directorium Inquisitorum” era usado nesses casos, eles perguntavam aos judeus: “preferem a morte ou água benta?” Com a imposição, milhares de judeus foram convertidos e batizados contra vontade, mas seguiam preservando os ritos judaicos no lar, o que mais tarde rendeu grande perseguição, como os Pogroms (ataque massivo) que matou 50 mil judeus e 120 mil deles fugiram para Portugal.

Portugal aderiu a inquisição em 1536, que durou até 1821.

Conforme a Igreja conquistava espaço a Inquisição ganhava força e chegou a Itália, Portugal, Espanha e França, a Inglaterra não consolidou os tribunais. Criada para combater o sincretismo e combater crenças locais, a Inquisição virou elemento de tortura e uso para fins políticos. O rei e a rainha da Espanha aproveitaram da força para perseguir nobres e judeus, reduzindo o poder de nobreza e praticar torturas para tomar seus bens.

O papa reorganizou o Concílio de Trento no século XVI, o nomeando como Tribunal do Santo Ofício. Após as abolições da ação inquisitorial, o Santo Ofício continuou atuando nas doutrinas da Igreja, determinando sanções e penas espirituais, uma espécie de dicastério da Cúria Romana, que foi renomeado pelo papa Paulo VI como Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé. A Congregação Sacra e Universal Inquisição do Santo Ofício durou de 1542 até 1965. 

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Foi criada a Milícia de Jesus Cristo que julgavam e queimavam aqueles que consideravam desobedientes, um dos membros dessa milícia foi Nicolau Eymerich, um teólogo católico e inquisidor catalão, que escreveu um manual da Inquisição com orientações de investigações e punições. Domingo de Gusmão foi que articulou a milícia, reunindo todos aqueles que estivessem dispostos a utilizar de violência e armas para defender a fé católica. Os inquisidores andavam pelas cidades buscando confissões e denúncias. 

A hegemonia do catolicismo, durante os séculos V e XV, contou com igrejas, mosteiros e catedrais e recebia apoio de autoridades e políticos. Após sofrer decadência no século XV, a Inquisição revigorou anos depois com o grande interesse dos reis católicos em se apossarem das riquezas acumaladas pelo judeus. Em Portugal havia grande concentração de judeus nos comércios e o rei Manuel I decidiu forçá-los a conversão em 1497, o que aumentou o clima de conflito entre cristãos e judeus convertidos à força, vítimas de episódios de violência, o que gerou desconfianças e novos atritos. 

Devido aos conflitos constantes, o rei Dom João III decidiu autorizar que os domínios do Tribunal do Santo Ofício fossem instalado em Portugal, assim os países ibéricos tornaram-se focos das atividades inquisitivas.

Em terras brasileiras foram instalados tribunais durante o período colonial, mas não receberam força como tinham adquirido na Europa. Alguns julgamentos aconteceram no Nordeste com pessoas consideradas hereges, incluindo judeus que já habitavam o país. Foi instaurado um tribunal para regulamentar a religiosidade nas colônias na América.

No Jubileu que aconteceu no dia 12 de março de 2000, o papa João Paulo II pediu perdão, em nome da Igreja, pediu perdão pelos pecados cometidos por ela. Uma Comissão Teológica Internacional elaborou um documento chamado “Memória e Reconciliação: a Igreja e as culpas do passado” que investigou os crimes cometidos pela Igreja ao longo da história.

PUNIÇÃO

Todos que eram apontados como suspeitos eram capturados e levados a julgamento. As condenações eram por responsabilidades de crise da fé como terremotos, doenças, pestes, miséria e bruxaria.Os condenados cumpriam penas que variavam de confisco de bens, prisão temporária, prisão perpétua a fogueiras onde eram queimados vivos em praça pública.

Milhares de pessoas foram presas, torturadas e queimadas vivas por acusações que, na maioria das vezes, eram infundadas e vingativas. 

A Igreja ganhou poder e passou a desafiar reis, nobres, burgueses e personalidades importantes dessa época. A perseguição aos considerados hereges só parou no início do século XIX.

BRUXARIA?

O período que ficou marcado por mortes brutais tem a marca de mulheres mortas acusadas de praticar bruxaria. 

A peste negra, de 1348, deixou a área agrícola prejudicada e foi somada a outras epidemias do século XVII, junto a mortes de adultos e crianças e fome. Mesmo tempo que a Igreja agia como impositora da fé através da Inquisição. As leis romanas condenavam a magia e frequentemente enfermidades e mortes eram associadas a feitos mágicos. 

Com isso, as religiões que praticavam magia foram consideradas crenças proibidas, mas os devotos seguiram a exercer sua fé contrariando os padres. De fato, houveram clãs que fizeram feitiços e amaldiçoaram os inimigos como forma de confronto. 

As mulheres eram majoritárias na magia e, desde o século II, tornaram-se solitárias nos rituais. Elas eram curandeiras, conselheiras, parteiras, que faziam simpatias e remédios naturais, muito respeitadas pela população da França, Alemanha, Inglaterra, entre outras, chamadas de bruxas medievais. 

Cientistas e pesquisadores também foram perseguidos, julgados e condenados pela prática que era contrária ao cristianismo, como é o caso do astrônomo italiano Galileu Galilei que escapou da fogueira, ele tinha sido condenado por afirmar que o planeta Terra girava ao redor do Sol, já o cientista italiano Giordano Bruno foi morto pelo Tribunal.

Segundo o Martelo das Feiticeiras, publicado em 1487, o conceito de bruxaria surgiu na Idade Média e atribuía praticantes da magia como ajudantes do demônio. A palavra mageia – do greco-romano – denominava como uma religião que cultuavam deuses ligados à noite e à escuridão; Plutão, deus dos mortos, e Hécate, deusa das encruzilhadas e da lua nova, era considerados como deuses capazes de causar ou curar doenças.

Entre as justificativas apresentadas para perseguir e condenar as bruxas, estavam afirmações de que elas adoravam o diabo, faziam rituais e feitiços malignos e roubavam bebês durante a noite para serem esquartejados em ritos e depois ferver os corpos em caldeirões para fabricar poções.

A caça às bruxas tornou-se oficializada em 1484, quando o papa Inocêncio 8º publicou uma bula que estabelecia herege todos que realizavam encantamentos, sortilégios, conjurações e afins. A perseguição se estendeu até o século XVIII.

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Em 1487, o clérigo católico Heinrich Kramer, lança o manual de caças a bruxas Malleus Maleficarum, um livro que descreve as heresias e estimula a tortura como método de obter confissões, afirmando que as mulheres possuem tendência natural para se tornarem bruxas. Esse livro foi uma espécie de vingança, Kremer foi impedido de levar adiante um dos primeiros processos contra as bruxas na região de Tirol, ele também havia sido expulso de Innsbruck, mas apelou ao Papa Inocêncio VIII que o atendeu com uma bula que lhe garantia jurisdição para agir na Alemanha. Antes da publicação do livro, a bruxaria não era considerada um crime tão grave para a Igreja e a punição eram castigos físicos, após o livro a condenação passou a ser por julgamentos e condenações até mesmo de suspeitas de bruxaria. Este livro foi usado nos tribunais seculares, principalmente durante a Renascença.

Johannes Junius, prefeito de Bamberg, na Alemanha, foi capturado e passou uma semana pendurado pelos punhos com as mãos para trás, teve seus dedos apertados a ponto de sangrarem e as pernas tão apertadas que seus ossos quase se partiram. Ele havia sido denunciado pela esposa e um amigo que foram mortos queimados. 

No dia 5 de julho de 1628, ele foi questionado pelos inquisidores e contou a seguinte história:

“Tendo entrado nos 50 anos, com uma depressão profunda, resolvi passear pelos campos de minha propriedade. Sentei-me no chão para poder chorar, momento este que fui interrompido por uma aparição estranha, vi um demônio que se fantasiara de mulher para seduzir os homens, ele veio até mim e quis saber por que eu estava tão triste. Respondi-lhe que eu não sabia, a criatura então se aproximou e se transformou num bode e me falou: Agora você sabe com quem está lidando. O bode então me exigiu que me entregasse a ele para que não me matasse. Eu gritei “Deus, me salve disso” e o ser sumiu, mas retornou com mais demônios. Eu então cedi, neguei a Deus e aceitei o batismo negro. Assim, uma rede de satanistas se revelou a mim e me convidou a celebrar os sabás negros.”

A história foi inventada para parar o suplício, ele confirma isso numa carta final destinada à sua filha. Ele sabia o que os “caçadores de bruxas” desejavam ouvir, a narrativa foi tida como realidade e os acusadores queriam os nomes dos tais satanistas para poupá-lo de mais torturas, ele precisou inventar.

A cidade sofreu perseguições por três anos seguidos e a população insegura começou a questionar o Tribunal. Em meio a Guerra dos 30 anos tropas protestantes invadiram a cidade, o que terminou o “fogo aceso”.

No século XIII, teve início um processo de êxodo para as cidades, que perdurou séculos e foi marcado por uma série de revoltas camponesas por toda a Europa, alterando as relações entre os senhores feudais e seus servos, assim como as ações das mulheres perante as normas vigentes. 

Com as mudanças impostas na transição do feudalismo para o capitalismo, as mulheres passaram a exercer profissões como ajudantes, cirurgiãs, prostitutas. A atividade que trouxe liberdade não passou despercebida pelo controle da Igreja e técnicas de alquimia e pura e simples magia foram coibidas até em meio aos líderes religiosos da fé cristã. 

No século XIII o Grimório de Honório passou a ser cobiçado pela Europa, nele havia feitiços para escapar do purgatório e para invocar demônios, dentre outras coisas. Outros grimórios continham fórmulas e pequenos feitiços. Os alquimistas, que também manipulavam a natureza nessa época, eram conselheiros de reis e papas e por isso eram considerados educados e dotados de riquezas, já as bruxas eram geralmente pobres e, apesar de também manipularem a natureza, eram tidas como adoradoras do diabo e praticantes de magias e poções pagãs. 

A partir do século XIV as bruxas se tornaram o principal alvo da Inquisição, logo após o surto da Peste Negra que matou cerca de um terço da população europeia; líderes religiosos associaram a doença como maldição por partes das bruxas. Valais, na Suíça, protagonizou o primeiro julgamento coletivo de pessoas acusadas de bruxaria no ano de 1428. Os registros foram destruídos.

Elas passaram a sofrer acusações de praticar sexo com o demônios, entre o século XIV e XVII, num período em que sexo era um grande tabu na sociedade. Os juízes, aguçados pela curiosidade, pediam os mínimos detalhes das tais práticas sexuais.

Bastava ser uma mulher que fugia do padrão imposto na época de submissão e comportamento, curandeira ou mesmo com desordem psicopatológicas, para se tornarem alvos dos inquisidores. Se fossem vítimas de falsa acusação, seja por implicância ou por inveja, que elas eram caçadas e capturadas.

Quando Alice Kyteler foi julgada em 1324 e queimada viva, surgiram os rumores sobre as vassouras voadoras, segundo diversas fontes “atestaram” a receita era de unguento voador com efeito alucinógeno feito a partir de plantas venenosas em doses seguras como a figueira-do-diabo, beladona e mandrágora, alguns historiadores apontam a mistura como uma receita dos druidas que era utilizada em rituais noturnos.

Um livro chamado European Witch Trials: Their Foundationsin Popular and Learned Culture, escrito por Richard Kieckhefer, reúne uma lista extensa sobre julgamentos de bruxas no século XIV, cerca de 600 pessoas foram acusadas de bruxaria em Toulouse, na França, entre 1320 e 1350, dessas 400 foram julgadas e 200 dessas pessoas sofreram condenação e foram para execução na cidade vizinha, Carcassonne.

Cerca de mil pessoas foram assassinadas em Trier entre 1581 e 1593, cerca de 250 pessoas em Fulda entre 1603 e 1606, 900 em Würzburg entre 1626 e 1631, e outras mil em Bamberg entre 1626 e 1631.

Nos Estados Unidos, em 1692, 150 pessoas foram acusadas e presas por bruxaria na cidade de Salem – o nome se tornou famoso em seriados, filmes e livros – algumas das meninas presas disseram ser vítimas de feitiços. Um tribunal especial foi gerado para julgar o caso e dezenove pessoas foram enforcadas.

A última pessoa que foi morta acusada de ser bruxa, foi Anna Göldi. O assassinato aconteceu em 1784. Ela era doméstica e  foi acusada de materializar magicamente vidros e agulhas no leite e no pão da filha do seu patrão Jakob Tschudi. Ela foi torturada na Suíça e durante a tortura disse ter feito um pacto com o diabo quando este veio em forma de um cachorro preto que surgiu de repente. Perante ao público ela foi acusada de envenenamento. 

Na Polônia, em 1793, duas mulheres também foram acusadas e queimadas na fogueira. 

TÉCNICAS MACABRAS

Muitas técnicas bizarras foram empregadas para o assassinato das bruxas. Uma das mais famosa foi chamada o “despertar da bruxa”, onde a acusada sofria privação do sono que foi desenvolvido por italianos, esse método consistia em usar um aro de ferro com quatro pontas bem afiadas e colocá-lo na boca da vítima, essa por sua vez era presa na parede de forma que não podia deitar ou descansar a cabeça, os homens deveriam mantê-las acordadas pelos meios que desejam utilizar. Quando a vítima sofria alucinações, depois de vários dias, era interrogada e se falasse sobre fantasias era condenada e morta.

Outro método para validar a acusação estava o teste d’água, onde a mulher era arrastada até um rio ou lago, era despida, amarrada e jogada na água, se ela flutuasse era considerada bruxa – porque segundo eles – as bruxas repeliam a água devido ao suposto batismo satânico que as deixava leve. Por isso, se a mulher pesasse menos do que era tido como normal nessa época, ela também era considerada uma bruxa e condenada.

Existia também o teste do toque, onde diziam que a pessoa que estivesse sob efeito de feitiçaria tocasse na pessoa que a enfeitiçou uma reação adversa era manifesta. Com base nessa técnica, duas idosas chamadas Rose Cullender e Amy Denny foram investigadas e acusadas de enfeitiçar duas meninas na Inglaterra, as meninas mantinham os punhos cerrados de maneira que nenhum homem conseguia abrir os seus dedos, quando foram tocadas pelas acusadas as meninas abriram as palmas das mãos, o juiz então vendou as meninas e pediu para que outros membros da corte tocassem nelas, as meninas mantiveram as reações, mesmo assim as idosas foram condenadas e mortas enforcadas.

A cremalheira era outro método que utilizava-se de uma estrutura constituída por ferro e um rolo de madeira nas extremidades, as mãos e os tornozelos da vítimas eram atados para que os torturadores aumentassem a tensão das amarras e esticasse a vítima durante os interrogatórios, nesse processo os ossos eram primeiro deslocados e depois rompidos.

Já no método de picadas a vítima era deixada nua perante a corte e todos seus pelos e cabelos do corpo eram raspados para que o torturador utilizando de uma agulha grossa picasse todo o corpo da acusada para que encontrasse a marca do diabo – que, segundo acreditavam, nesse lugar não sangraria e nem provocaria dor. Esses torturadores recebiam cerca de 6 libras por cada mulher torturada – o salário da época, na moeda xelim, era equivalente a vigésima parte de uma libra. Uma mulher se tornou a torturadora mais perversa dessa época, Christian Caddell, que se vestia como homem e usava o pseudônimo de John Dickson, condenou quase 10 bruxas.

O visgossar (poder que garotos teriam de identificar o Estigma Diabolo – marca do diabo – marcado de forma invisível na testas das bruxas) era o método de tortura onde os filhos das acusadas eram capturados e torturados até contarem histórias fantasiosas para que as mães fossem condenadas a morte. Questionavam se as crianças teriam visitado Blakulla – a ilha lendária da corte terrestre do diabo, para onde as bruxas voavam nos sábados das bruxas – questionavam as experiências no local, sobre a sala de banquetes que tinha uma vista exclusiva do inferno, as crianças eram interrogadas, e torturadas, até fantasiarem nas histórias e os torturadores terem artifícios para executar a mãe, o pai ou ambos. Vale ressaltar que esses garotos recebiam por cada bruxa identificada, o apontamento acontecia logo após as missas, e eram usados meninos mendigos e órfãos.

Um instrumento que tinha um banco em sua ponta era usado como método para amarrar a vítima e a expor no lugar onde ela teria cometido suposta blasfêmia, os torturadores prendiam os pulsos e tornozelos e a mulher era inserida gradativamente num recipiente de água gelada se ela se afogasse seria aceita no reino dos céus e se flutuasse era considerada bruxa – que geralmente não acontecia.

Na Holanda os torturadores “pesavam a alma”, segundo eles as bruxas não possuíam uma e então seria mais leve que qualquer outra mulher. Existia um lugar para esse fim com inúmeras balanças, de um lado era colocada a acusada e do outro lado pesos de ferro que geralmente eram bíblias encadernadas com esse mineral, se a balança não se equilibrasse, eram mortas.

O método ius cruentationis colocava a pessoa acusada perto do cadáver para ver se o corpo reagiria próximo ao assassino, a vítima era obrigada a invocar o nome do morto e andar ao seu redor tocando-lhes as feridas do corpo, caso surgisse algum sangue ou o cadáver se movesse ou espumar pela boca, a vítima era condenada à morte. Os cadáveres costumar expelir o fluido de purga durante a putrefação, logo a condenação era certa.

Marcas de nascença também eram consideradas como provas cabais que a vítima praticava feitiçaria. 

Animais de estimação como cães, gatos, ratos ou até mesmo insetos, eram considerados demônios e os torturados acreditavam que eles alimentados com um seio especial que era concedido a bruxa pelo diabo, a acusada era obrigada a mostrar os seios (numa época onde isso era uma terrível humilhação). Elas eram chicoteadas. Anna Pappnheimer foi torturada até admitir que mantinha relações sexuais com o diabo, sua punição foi ter os seios cortados e empurrados na sua boca e na boca dos seus dois filhos, os três foram queimados na fogueira.

MULHERES MORTAS 

Existe uma lista que contabiliza as pessoas executadas vítimas das acusações de bruxaria. Os julgamentos inclui as bruxas de Basco, na Espanha, as bruxas de Fulda, na Alemanha, as bruxas de North Berwick, na Escócia e as bruxas de Torsåker, na Suécia, além das colônias Massachusetts, Connecticut, Salém nos Estados Unidos. No continente africano e no continente asiático, e na Oceania, algumas pessoas foram executadas posteriormente, acusadas do mesmo “crime”. A Arábia Saudita tem um Código Penal para criminalizar as bruxas. A  Anistia Internacional (AI) aponta que cerca de 150 vítimas são executadas por ano acusadas de bruxaria.

Entre os acusados de bruxaria estão os nomes de:

Hipátia,Zhang Liang, Angèle de la Barthe, Petronilla de Meath, Kolgrim, Matteuccia de Francesco, Joana d’Arc, Agnes Bernauer, Gracia la Valle, Mark Antony Bragadini, Lasses Birgitta, Sipinpoika Rasmus, Blanca Severo Luna, Agnes Waterhouse, Elisabeth Plainacher, Dora Golub, Anna Koldings, Marigje Arriens, Bruxos de Warboys, Merga Bien, Nyzette Cheveron, Bruxas de Belvoir, Wolde Albrechts, Sidonia von Borcke, Anne de Chantraine, Urbain Grandier, Johann Albrecht Adelgrief, Elizabeth Clarke, Alse Young, Michée Chauderon, Ann Hibbins, Jón Jónsssr, Brita Zippel e Anna Zippel, Marie Bosse, Catherine Deshayes, Bridget Bishop, George Burroughs, Giles Corey, Mima Renard, Anna Eriksdotter, Margareta Korenika, Helena Curtens, Ursulina de Jesus, Anna Göldi, Giovanna Bonanno, Maria da Conceição, Mary Bateman, Barbara, Zdunk, Helen Duncan, Mara`i al-Naqshabandi, Zamabhengu Khawuta, Aphiwe Ntleki, Lihle Ntleki, Madinda Ntleki, Zamabhala Ntleki, Zisanda Ntleki, Shenfo Alenchena, Tikambai Sahu, Uppala Pochaiah, Jongolo Sola, Mohamed Affandi Abdul, Mona Fandey e Juraimi Hussin, Domingo Shil, Kristy Bamu, Amina Abdul, Halim Salem Nasser, Maili Tamang e Kanchhi Tamang, Dhegani Mahato, Muree bin Ali bin Issa al-Asiri, María Verenice Martínez, Kepari Leniata, Magdalena Francisco, Fabiane Maria de Jesus, Adolfina Ocampos

ALGUNS BRUXOS – DE FATO – SE TORNARAM CONHECIDOS

Aleister Crowley

Estudioso, Crowley confrontou o ensinamento religioso bíblico, teve uma vida promíscua durante a faculdade e 1896 teve sua primeira experiência com a espiritualidade, desde então passou a estudar misticismo, ocultismo, magia e alquimia. Anos depois, fundou a Ordem Hermética da Aurora Dourada onde trabalhava magia branda e magia negra. Ele se casou com Rose Edith Kelly e durante uma viagem de núpcias recebeu uma orientação que concebeu o Livro da Lei. Crowley fundou a doutrina Thelema e o Ordo Templi Orientis (O.T.O.) que trabalhava magia cerimonial e cabala. Uma das suas frases marcantes é: “Faz o que tu queres, pois será tudo da lei.”

Helena Blavaktsy 

Fundadora da teosofia e sabedoria divina, Madame Blavaktsy psicografou textos para o Vaticano em segredo, criou a Sociedade Espírita no Egito e Estados Unidos, fazia muitos rituais e ainda hoje muitos dos seus textos não puderam ser decodificados.

Joan Wytte
Uma simples senhora curandeira que previa o futuro e tinha diversas práticas de cura, como por exemplo panos que removiam a doença do enfermo. 

MITOS E CULTURA

As práticas macabras da Igreja Católica foi inserida em contos para criança, seus crimes foram ocultados e as bruxas transformadas em grandes vilãs das histórias infantis. Os mitos sempre variavam: mulheres que entravam pelo telhado e sugavam o sangue de crianças, gargalhadas, vassoura voadora, caldeirão, gato preto, chapéu comprido, vestidos pretos, conhecimento de ervas, magia com fogo, lua cheia, encantamento… as acusações para justificar assassinatos passou a ser parte de características do mito.

Gullveig, A Rainha do Espelho, Malévola, Hécate, Madame Tremaine, Bruxa Má do Oeste, Glinda, Lezah, Madame Mim, Cuca, Morgana, Minerva, Feiticeira Branca, Sacerdotisa Vermelha, Ravenna, muda-se o nome para que seja mantida a história.

De fato existiram bruxas ritualísticas, conhecedoras da magia, praticantes; essas não foram capturadas mas foram trazidas para o seio das grandes instituições, compartilharam seu conhecimento e mantiveram a salvo suas vidas. 

DEFINIÇÃO DO QUE É MAGIA E RITUAL

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Ritual é toda ação canalizadora de uma energia específica, que por sua vez é trabalhada, manipulada – isto é magia – e direcionada para determinada situação, trabalho ou feito. Manusear a força dos elementos da natureza, treinar seu espírito. 

Magia e ritual está presente em todas religiões, no ato da adoração e da invocação, do canto e da reza, da dança e do contato, do sentimento e o transbordamento. Nas entradas e saídas, nos prédios, nas profissões, nos atos domésticos.

MAGIA RITUALÍSTICA NA IGREJA CATÓLICA

Looking down over Piazza San Pietro in Vatican City

A Igreja, que perseguiu os considerados hereges por conta de rituais magísticos, adota muitos desses rituais nas missas, principalmente nas missas latinas – consideradas missas do rito antigo ou ainda missa tridentina. Seja nos símbolos, na arquitetura, nas práticas ou nas velas, o ritual magístico está enraizado na igreja. 

Carl Gustav Jung, fundador da psicologia analítica, afirmou no livro “A Energia Psíquica” que “O mecanismo psicológico que transforma a energia é o símbolo.” Na arquitetura da Igreja, na construção, na decoração interna e nas representações insígnias, os símbolos dotados de carga energética estão presentes. E ele continua afirmando que “A influência exercida sobre a mente pelo objeto magicamente atuante pode ter também outras conseqüências: por sua ocupação ludicamente alimentada com o objeto, o homem faz todos os tipos de descobertas em torno dele, as quais, de outra maneira, lhe teriam escapado.”

Vejamos:

Antes da missa: acontece o asperges, que é a aspersão com água benta e um versículo bíblico de remissão dos pecados. O sacerdote deve vestir uma alva, com estola de cor roxa se ele for celebrante (as cores litúrgicas (cores do dia) são estabelecidas pelo nº. 346 da vigente Instrução Geral do Missal Romano, sendo elas branco, vermelho, verde, roxo, preto, rosa e dourado). Este, exorciza o sal e abençoa a água, coloca o sal na água por três vezes polvilhando em forma de cruz e ditos ritualísticos. Após, veste uma pluvial na cor do dia e, enquanto cantam uma antífona, ele polvilha água benta no altar três vezes, fazendo a primeira consagração.

Depois de uma procissão realizada pelos coroinhas da missa, um cálice velado é colocado no centro do altar, o sacerdote fica na frente do altar e faz um sinal da cruz, o cálice é colocado sobre a credência. O Missal Romano, que contém as orações que o padre deve recitar, é depositado do lado direito do altar. Três painéis, chamados Sacras, são dispostos no centro e nos lados direito e esquerdo.

O sacerdote, em uma próxima etapa, realizará uma Antífona de Ofertório, sem nenhuma oração, em referência a antiga oração dos fiéis onde aqueles que não eram batizados podiam assistir a Missa dos Catecúmenos mas não podiam participar e, por isso, eram dispensados da igreja. Após a leitura, de mãos unidas, ele cita as escrituras bíblicas. 

Ele oferece a Deus as hóstias e coloca numa patena que é erguida no nível do peito, pede perdão dos pecados dos vivos e mortos e pede que sirva de salvação deles. Uma pequena dose de vinho é colocada num cálice, gotas de água são misturadas e os servidores levam as galhetas, o sacerdote segura o cálice até a alta dos seus lábios e o oferece o “cálice da salvação” realizando uma oração adaptada de versículos bíblicos.

Assim, uma palavra ou uma imagem é simbólica quando implica alguma coisa além do seu significado manifesto e imediato.” Carl Gustav Jung no livro O Homem e Seus Símbolos

Um incenso é levado ao altar em um turíbulo, o pão e o vinho são incensados no altar, com orações são pronunciadas as palavras ritualísticas em latim e em seguida o sacerdote é incensado por um dos servidores e outros ministros que estão no local.

Uma bacia e um vaso com água é levado até o sacerdote, ele lava as mãos e lê mais um versículo bíblico antes de rezar um Gloria Patri.

Por fim, é realizada uma oração a Trindade, mais palavras em latim são verbalizadas, pedindo que esta por sua vez receba a oferta sendo feita em memória da paixão, ressurreição e ascensão de Jesus e em honra da sempre Virgem Maria e os outros santos, e então o sacerdote diz a Secreta (a oração sobre as oblatas), concluindo o Ofertório com o “amém” (que assim seja).

Carl Gustav Jung, no livro Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo, explana que “A manifestação psíquica do espírito indica simplesmente que é de natureza arquetípica, isto é, o fenômeno que denominamos espírito depende da existência de uma imagem primordial autônoma, universalmente dada de modo pré-consciente na disposição da psique humana.”

SINCRETISMO RELIGIOSO

Os ritos da Igreja Católica muito se assemelham aos da religiões milenares que a antecederam, seja nos rituais de passagem e consagração, na água sagrada, nas vestes, nos símbolos, no sincretismo feito para adequar a fé pagã dentro do catolicismo, ainda hoje ritualizadas, como é o caso do Natal que foi criado para sincretizar o solstício de inverno e o nascimento anual do Deus Sol (o nascimento do deus Mitra) e a Páscoa que era o ritual pagão que celebrava a chegada da primavera e a ressurreição depois da noite invernal; A festa de São João foi sincretizada com a festa do solstício de verão, o dia de Todos os Santos e o dia dos Finados são sincretizadas tanto com os irlandeses quanto com os celtas que festejavam na passagem de estação, no Brasil dos santos católicos sincretizados com os orixás; assim é com a passagem de Ano Novo – o réveiller: despertar, com as velas, com os fogos de artifício, e muitos outros símbolos cristianizados. 

CONCLUSÃO

O catolicismo não foi introduzido no mundo, foi imposto! Com mentiras, torturas e assassinatos assim como a fé que condenavam. Qualquer fé contrária corria o risco de ser dizimada ou sincretizada, não tinha opção para conversão, era conversão ou morte. Foi assim com os pagãos, com as bruxas, com os judeus. 

Hoje, na diversidade religiosa que vivemos, com uma facilidade virtual de conhecer e aprender sobre novos conceitos e filosofias, é possível perceber o quanto de sangue a Igreja Católica carrega na sua história, nos seus ritos e nos seus símbolos.

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