O que antes era algo natural, a pouco tempo tem se tornado razão de discussões no universo feminino. Amamentar, que sempre foi uma satisfação, atualmente se tornou uma “opção.”
A apojadura (processo de descida do leite) ocorre logo após o nascimento ou em até três dias após o parto. A OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda que o processo de amamentação tenha início nos primeiros 60 minutos de vida do bebê, e que o aleitamento materno seja exclusivo até os seis meses de idade e seja complementar até os dois anos.
São poucas as mulheres que tem de fato ausência na produção de leite, geralmente essa falta é ocasionada por alguma doenças físicas como diabetes, tireoide e distúrbios hormonais, transtornos emocionais como depressão, ansiedade e stress, por cirurgia mamária e/ou traumatismos da mama, por perda excessiva de sangue durante o parto, por retenção de resquícios da placenta, ou ainda por hipoplasia – trata-se de uma condição rara onde não há tecido glandular mamário suficiente para produção do leite. A alimentação incorreta também pode prejudicar a produção de leite.
É importante salientar que a produção é direcionada pelo consumo: cada vez que o leite é extraído, seja pelo próprio bebê ou pela extração manual, mais seu corpo produzirá. Portanto, se o bebê não mamar uma quantidade suficiente o ideal que extraia manualmente, mesmo que ele seja complementado com a fórmula, para que a produção continue a crescer.
A pega do bebê é fundamental para amamentação correta e satisfatória para ambos, mãe e filho. Além de prevenir lesões nos seios que podem causar dores para a mãe e incomodo para o bebê e evitar o ingurgitamento (produção excessiva de leite, onde este se torna viscoso prejudicando a sucção, causando o empedramento).
Recomenda-se que massageie os seios antes de amamentar com movimentos circulares no sentido horário, que coma alimentos que estimulem a produção de leite, como por exemplo a maçã, tome 2 litros de água por dia para manter a hidratação e faça compressas de água morna, caso seja necessário.
A amamentação é importante para diversas fases do desenvolvimento humano. E é sobre isso que vamos conversar a seguir.
Processo fonoaudiológico
Na amamentação trabalha-se o sistema estomatognático que é responsável por identificar as estruturas bucais, a participação da mandíbula, e suas diversas funções como o ato da sucção que promove o esforço por parte do bebe que irá estimular músculos importantes como pterigóideos, masseter, temporal, digástrico, gênio-hióideo e milo-hióideo, o bebê faz entre 2.000 e 3.500 movimentos mandibulares.
Esse processo causa uma fadiga que irá contribuir para que hábitos deletérios (como chupar dedos, por exemplo) não sejam adquiridos, o que não acontece no caso da amamentação artificial por mamadeira, que irá exigir menos esforço e irá estimular apenas músculos bucinadores e do orbicular da boca, onde o bebê fará apenas 2.000 movimentos e, por consequência, procure outros meios para satisfazer o prazer emocional da sucção.
A amamentação prepara o bebê para a comunicação, promovendo o crescimento osteomuscular harmonioso, equilibrando a musculatura oral, a língua, estimulando o processo respiratório e o desenvolvimento correto das arcadas dentárias. O desenvolvimento da musculatura e ossatura bucal é extremamente importante para o desenvolvimento anatomofuncional das estruturas orofaciais (para uma face harmônica) e a amamentação evita problemas de fala e de mastigação no futuro.
Segundo o Conselho Regional de Fonoaudiologia de São Paulo, o fonoaudiólogo tem um papel fundamental no primeiro processo de amamentação que ocorre ainda no hospital. Ele quem irá orientar sobre o envolvimento da envolvimento da musculatura orofacial no aleitamento materno, explicar sobre os prejuízos de bicos artificiais, avaliará a estrutura orofacial do recém nascido como a posição da língua, lábios e bochechas, analisará a sucção e a pega, bem como a postura e a anatomia. Esse profissional poderá identificar as causas das alterações e realizar estímulos que vão corrigir a amamentação, facilitando o ato para o bebê e para a mãe.
Laura Cristine Giacometti, que é fonoaudióloga do HSVP, disse ao Diário da Manhã que a pega correta favorece “esse desenvolvimento da musculatura da face, das estruturas do sistema estomatognático que é a sucção, a deglutição, a mastigação e a respiração, então o bebê que mama no seio, respira pelo nariz. O crescimento facial dele é harmônico e isso vai desenvolver depois para que ele consiga mastigar bem e falar”.
A sucção trabalha os órgãos fonoarticulatórios, o tônus, a postura, a mobilidade e a força, influenciando funções como mastigação, deglutição e articulação dos sons. E é a amamentação que prepara os músculos para a fala, ela é responsável pela boa comunicação oral.
Esse trabalho também reflete do desenvolvimento craniofacial, produzindo uma ação modeladora.
A amamentação para odontologia
A amamentação também promove alinhamento dos dentes. A odontopediatra Helenice Biancalana, diretora do Departamento de Prevenção e Promoção da Saúde da APCD, aponta que entre os benefícios da amamentação está a diminuição da aerofagia e o desenvolvimento maxilomandibular. Ela explica que sugar no peito aprimora a mobilidade, postura e tonicidade da musculatura orofacial envolvida, contribui para o estabelecimento da respiração nasal, além de prevenir a instalação de hábitos orais deletérios e más oclusões.
O posicionamento adequado durante a amamentação contribui diminuindo o risco de problemas auditivos que são causados por otites causadas, geralmente, pela ingestão de líquidos na posição deitada, principalmente de recém-nascidos.
A odontopediatra Walmira Garcia Borges de Oliveira explicou para o Sorrisologia que: “O ato de sugar o leite é muito importante para o desenvolvimento da dentição do bebê, fazendo com que os dentes se encaixem de forma adequada. Além disso, também estimula o desenvolvimento da musculatura da boca e da face, que depois irá refletir em outros movimentos como a fala e a respiração “,
O desenvolvimento psicológico na amamentação
A amamentação reduz o risco de mortalidade infantil, fortalece a imunidade, previne doenças, contribui para curva de peso regular, regula a temperatura corporal, mantém a coloração saudável da pele e melhora a digestão.
Mas os benefícios vão além, amamentar estimula o vínculo entre mãe e filho, e estimula o desenvolvimento neurológico, psicomotor, afetivo, social, cognitivo e intelectual.
Segundo a psicanálise, é o primeiro instinto a ser trabalha na vida, a fase oral. Não progredir nas fases psicossexuais pode ocasionar o que Freud chamou de fixação, quando o sujeito fica “preso” em uma fase e procura (na vida adulta) satisfações de modo infantil; hábitos como dar beijos estalados, comer compulsivamente, fumantes e os que tem hábito de lamber e morder coisas, podem ter a etapa psicológica incompleta e estejam fixadas nessa fase. A fase oral tardia que ocorre após o aparecimento dos dentes, pode promover, por exemplos, instintos agressivos.
Melanie Klein, uma das psicanalistas mais importantes na pesquisa do desenvolvimento infantil, elaborou um longo estudo sobre a fase psíquica envolvida na amamentação.
Para Klein, em a Origem da Transferência (1952) , a introjeção do seio é o início da formação do supergo, que se estenderá por muitos anos. Desde a primeira experiência, o bebê introjeta o seio em vários aspectos. Ele viverá, na sua fase emocional, variações entre amor e ódio, ansiedade persecutória e idealização, depressão e culpa. Seus impulsos fazem parte da construção da sua personalidade, do processo da formação simbólica que facilitará o processo cognitivo, de interesses, emoções fantasia e defesas.

Klein foi além, escreveu Inveja e Gratidão, tratando exclusivamente das fases da amamentação onde ela denomina os seios como seio bom e seio mau para explicar sua teoria sobre as manifestações da psique da infância. O bebê projeta seus impulsos de amor ao seio gratificador, qual ela chama de bom, e os impulsos destrutivos para o seio frustador, qual ela chama de mal, dessa forma a imagem do objeto externo é internalizado, distorcidos pelas fantasias do bebê que são ligadas pelos seus impulsos.

Conclui-se que a amamentação está diretamente ligada a todo processo de desenvolvimento do bebê, desde a primeira estrutura psíquica e motora, até a vida adulta, influenciando diretamente nas suas funções cognitivas, capacidade intelectual, habilidades, elaboração de processos emocionais e construção social.
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