Wilde Itaborahy, um dos agrofloresteiros mais conhecidos do mundo: vida, história e agrofloresta

Conheça quem é Wilde e saiba por que ele se tornou agrofloresteiro

Quem se depara com sua simplicidade e simpatia não imagina que por trás da imagem de homem do campo existe uma bagagem gigantesca de formação, contribuições significativas e experiência profissional.

Ainda jovem conquistou uma bolsa na Universidade do Rio de Janeiro onde se formou Bacharel em Geografia, ele também alcançou o mestrado pela mesma universidade e se formou Mestre em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade. Seu currículo é extenso, atuou como técnico técnico em pesquisa e desenvolvimento socioambiental no Programa Rio Negro do Instituto Socioambiental, prestou serviços para o governo e para empresas, participou de congressos, simpósios, conferências, oficinas, pesquisas, monitoramentos, palestras, entre outros projetos dentro da sua área. Além de ter inúmeras publicações e artigos de sua autoria. (clique aqui para conferir)

Fotografia: Luciana O Garcia

Ele foi premiado três vezes como destaque acadêmico do CCMN- Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza, Congregação do Centro- UFRJ, recebeu o prêmio de melhor trabalho científico da sessão na XXV Jornada de Iniciação Científica da UFRJ, e o certificado de Mensão Honrosa por premiação de melhor trabalho da geografia no Instituto de Geociências na XXV Jornada de Iniciação Científica da UFRJ.

Tendo vivido sua infância em Volta Redonda, interior do Rio de Janeiro, Wilde cresceu num local que estava entre o campo e a cidade, conta que desde muito cedo gostou de trabalhar com a terra e brinca que sempre ouvia que precisava estudar para ter um trabalho, ele se diverte ao lembrar que estudou para trabalhar no campo.

Wilde presta trabalhos para ONU (Organização das Nações Unidas), coordenou o Departamento de Populações Tradicionais no Amazonas atuando com criação e implementação de diversas Unidades de Conservação, foi pesquisador e secretário da Rede Rio negro e desde 2001 atua no tema de áreas protegidas.

Amazonas

Essa experiência lhe forneceu muita cultura e aprendizado e uma gratidão que é expressa nos seus olhos enquanto fala, o agrofloresteiro trabalhou junto com índios, ficou isolado no meio da mata e foi acolhido por essas pessoas que, segundo ele afirma, são os pioneiros nesse sistema de preservação na natureza.

Ele relata que ao compreender como o índio trabalhava e os recursos que utilizava para preservar a natureza dentro de uma agricultura natural ele entendeu seu papel em traduzir essa ideia que não é dita em palavras mas é rica em ensinamentos.

Conta que Ernst Götsch’s, percursor da agrofloresta com quem teve a oportunidade de aprender, sintetizou o conhecimento agregando seu conhecimento como cientista e pesquisador e tornando a técnica economicamente viável e esse movimento trouxe novos agricultores que otimizaram esse processo de acordo com seu solo, com seu clima, sistematizando uma rede de troca de informações e aprimoramento.

Na floresta Amazônia ele atuou como assessor de economia dos índios, valorizando os produtos que são raros em grandes capitais como São Paulo apesar de serem abundantes na região onde moram, o processo de valorização envolveu ensinar o sistema de venda em feiras, em processos de comercialização justa e na criação de associação de agricultores locais. Wilde relata que houve casos em que havia um único comprador que comprava toda farinha, borracha, cipó, por um preço muito abaixo daquilo que realmente vale, ignorando todo o trabalho de ir na floresta colher, o cultivo e o valor agregado. Esse trabalho não só valorizou o produto indígena mas a venda de excedentes nas comunidades próximas, o atrativo para o jovem que busca um futuro, garantindo uma atividade de trabalho menos penosa, facilitando a aquisição de ferramentas que podem ser substituídas por pedras, gasolina para canoa, remédios.

Essa ação conscientizou a população e favoreceu a terra, evitando por exemplo que garimpeiros troquem uma baixa quantia de dinheiro por minério e devastem a terra após explorá-la.

Ele afirma: “aprendi muito com eles, é uma técnica riquíssima, se ensinei 5% para eles foi muito.”

No seu trabalho, diversas vezes se deparou com pessoas vindas das grandes cidades para aldeia para acompanhar o trabalho ou desenvolver projetos ofertando um conhecimento teórico que não condizia com a realidade, ao serem questionadas as pessoas não haviam aplicado o método e vivenciado a prática de sua eficiência, o que Wilde considera julgamentos superficiais da situação, sem conhecimento de causa. Isso fez brotar a vontade em saber fazer, fazer do jeito certo com suas mãos e conhecimentos adquiridos para não se tornar uma pessoa dessas.

Reprodução: Facebook

Wilde construiu uma família no estado, adquiriu sua primeira terra, relata que ele e a esposa trabalhavam viajando, ele ficava cerca de quatro meses fora de casa dentro de comunidade ou no rio. O nascimento do filho trouxe uma nova perspectiva para eles, os dias fora de casa foram sendo reduzidos a dez, quinze e cinco dias, com o passar dos anos o filho entrou em idade escolar, ele precisaria de um lugar fixo, conta que já sentia uma necessidade de transformar um lugar no seu lar, sentir as dores e delícias de ser um agricultor e isso se tornou forte junto ao desejo em garantir um lugar seguro para o filho crescer, criar referências, ter amigos de infância.

Agora conta que tem propriedade para discorrer sobre os temas, hoje vive disso, trabalha diariamente com isso e dedica sua vida nesse sistema de agrofloresta.

A realização do sonho

Sistemático, leva a vida a sério mas seu ideal vai muito além de enriquecer com a técnica, sua ideia principal é propagar o sistema de agrofloresta e deixar o legado de ter reflorestado e executado esse feito garantindo a preservação da natureza, proporcionando qualidade de vida e dignidade.

Wilde sabia dos desafios que encontraria ao transformar um local degradado no seu lugar, diz que nunca sentiu medo e que encarou o desafio tranquilamente, mergulhando com tudo nesse projeto nasceu o Sítio dos Ipês, na região sul mineira. Ele pegou um sítio sem grandes estruturas e deu início ao seu trabalho de recuperar o solo, preparar a terra até poder começar seu cultivo.

Para construir a casa que corresponde a proposta de vida deles, veio um pedreiro do Amazonas para fazer uma belíssima casa com telhado verde, madeira e um artesanato único que sua esposa desenvolveu.

Reprodução: Facebook

Ele e sua esposa venderam a chácara que tinham no Amazonas, juntaram as finanças e compraram o sítio onde moram hoje, juntos estão recuperando a área, gerando renda e são exemplos na comunidade em que estão inseridos, Wilde ensina e mostra como se faz.

Reprodução: Facebook

O primeiro desafio encontrado foi viabilizar economicamente a agrofloresta., aprender e desenvolver os mínimos detalhes, conta que a mudança física e estrutural foi muito grande no primeiro ano, exigiu preparo físico e trouxe mudança de hábitos de consumo, incluindo a sazonalidade das plantas dentro da dinâmica da natureza, a relação com o sol, com o solo, com a chuva que as vezes não vem, com o calor, com o frio, a seca ou a geada, com a vida como um todo, lidando com os fatores e trabalhando junto com o processo natural.

Com tudo prosperando, a resposta positiva se manifestou através das cestas e produtos orgânicos que a família vende. Veja a seguir:

Os produtos de alta qualidade vão para feira, junto com agricultores locais que vem implementando a agrofloresta vendem produtos orgânicos como hortaliças, legumes, frutas, doces, entre outros.

Reprodução: Facebook

Wilde defende que as leis da natureza são rígidas e explica que na monocultura as plantas tiram nutrientes e água do solo e não repõem nada de volta, a reposição feita artificialmente não é para preservar, mas para replantar até consumir toda a fertilidade do solo, sugando tudo o que tem e transformando áreas de florestas bonitas em desertos, e com o tempo o deserto avança e a natureza perde sua abundância. Na agrofloresta há um sistema de troca, onde árvores tem um papel fundamental para retornar nutrientes para o solo. Wilde reforça que a floresta é adubada e fertilizada naturalmente.

Acredita que a agrofloresta vai se propagar pelo mundo, que as pessoas entenderão a importância desse sistema que preserva o meio ambiente, preserva a qualidade do alimento, recupera o solo e garante prosperidade e abundância da terra.

Ele reforça: “agrofloresta não é só mais bonito e natural, é mais eficiente!”

O curso

Quanto mais a ideia cresce, mais o interesse no curso aumenta, ele comenta que muitos jovens tem procurado o curso para entender o que fazer com propriedades herdadas que foram degradadas pela monocultura. Sem contar as pessoas que adquirem os produtos na feira e ficam curiosas para saber como funciona o processo.

Foto: Luciana O Garcia

Muitos procuram uma vivência, para ver como é o trabalho, para se tornarem consumidores melhores, ou pessoas que desejam morar na roça e queiram se habituar ao universo rural. Nem todos querem ser agricultores, mas ele reforça: “Todo mundo pode criar uma harmonia socioambiental, todos consomem alimentos todos os dias e o papel de favorecer ou desfavorecer a natureza é exercido. É fácil falar da destruição da floresta Amazônia e no dia a dia consomem produtos que financiam a degradação da natureza.”

O curso atrasa o serviço de Wilder, mas ele ministra com muita alegria em poder educar as pessoas na agrofloresta. Acontece durante a semana e as turmas são individuais de no máximo três pessoas por vez, são dias de aulas detalhadas, prática na roça, aprendendo diariamente cada espécie de planta, o preparo do solo, o modo correto de plantio, o tipo de plantação, como montar os consórcios de maneira adequada, como e quando irrigar, dentre uma infinidade de coisas importantes e essenciais para o futuro agrofloresteiro.

Ele fala da importância em comprar direto do produtor para favorecer o meio ambiente e levar dignidade para o campo. Pontua que o agricultor não é uma pessoa inferior que trabalha duro num local onde nenhum jovem quer ingressar, mas quem produz nosso alimento de todo dia. Ressalta que quando levamos dignidade para o campo, seja consumindo, seja se aproximando da natureza além de acampamento e banho de natureza, nós valorizamos a sua recuperação.

Wilde presta consultoria online e presencial para empresas e pessoas, auxilia desde a montagem da agroflorsta até o ponto ideal para construção da casa de forma que o proprietário venha extrair o melhor da propriedade dentro do sitema da agrofloresta.

O turismo

Um chalé bem aconchegante, com uma cama muito confortável, um banheiro com ducha bem quentinha, uma cozinha completa e uma vista espetacular da Pedra do Baú é o que aguarda os visitantes e turistas.

O sítio está localizado entre duas cidades que são beneficiadas pela exuberância da natureza na divisa entre São Paulo e Minas Gerais: Gonçalves (MG) é considerada cidade pérola da Mantiqueira, com diversas cachoeiras de águas cristalinas, muitos rios e grandes picos, com um clima agradável típico de cidades agraciadas pelo verde.

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São bento do Sapucaí, que fica a poucos minutos do local, é uma das doze cidades paulistas que são consideradas estâncias climáticas do estado, com excelentes restaurantes, cachoeiras incríveis e muitos pontos turísticos que incluem esportes radicais como na Pedra do Baú que é rota de escalada no estado, a cidade é favorecida por cultura regional como o artesanato e gastronomia.

O clima ameno com sol pela manhã e frescor ao pôr do sol garantem ao turista um clima único de aconchego e acolhimento em um ambiente que promove a tranquilidade e individualidade.

Da belíssima varanda é possível ver a famosa pedra, além de conferir aos hóspedes um vista plena das montanhas. Por estar no meio da mata, o canto dos pássaros é ouvido durante todo o dia e a segurança é garantida por uma porteira grande e um ambiente muito limpo e preservado.

Os anfitriões recebem muitos elogios nos sites tanto do local quanto da recepção.

Para entrar em contato, você pode acessar o Sítio dos Ipês via Airnb ou Booking, ou clicar no botão:

Análise pessoal

Meus dias com Wilde foram muito alegres e proveitosos. Um professor bem detalhista, com uma comunicação muito clara, com explicações precisas. Como pessoa, ele é um ser humano exemplar, com um coração gigante, uma energia positiva e dono de muita alegria.

É alguém que encontrou seu lugar no mundo e que desempenha um papel muito importante para o meio ambiente e para sociedade. Por trás do trabalho intenso e da disposição energética para a agrofloresta mora um pai de família muito responsável, preocupado em proporcionar o melhor para seu filho e para sua esposa, com um vínculo muito sincero com seus pais, sogros e família.

Depois de absorver todo conteúdo, de ver a realidade possível, saímos renovamos, com a mente purificada e com um desejo enorme de tornar o mundo melhor, em preservar a natureza, em valorizar cada alimento que consumimos, em entender a importância de cada mínimo trabalho rural.

E ganhamos a certeza que o método é aplicável para quem deseja fazer uma agricultura limpa e para quem quer apenas cuidar do seu jardim, essa ciência brasileira vai muito além de extrair da natureza ou de trocar com natureza, é devolver a ela tudo que a pertence, tudo o que lhe foi tirado erroneamente durante tantos anos, em valorizá-la e atuar lado a lado para que nossa casa seja melhor, nossa cidade seja melhor, nosso país seja melhor.

Quem tiver a oportunidade de estar nesse lugar, de se envolver nessa energia, de aprender esse cuidado, façam o curso, façam a vivência ou se hospedem no Sítio dos Ipês, eu garanto que sairá de lá uma pessoa renovada, com ideais bem definidos e o desejo gritante de tornar o mundo um lugar agradável e preservado para viver.

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2 comentários em “Wilde Itaborahy, um dos agrofloresteiros mais conhecidos do mundo: vida, história e agrofloresta

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  1. Parabéns!! Excelente tema e excelente texto. É importante darmos muita publicidade à agrofloresta para conscientizarmos a todos de que precisamos respeitar a natureza, cada vez mais.

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