Os cientistas apontam que a falta de controle e identificação de novas variantes “isolará o Brasil como uma ameaça à segurança da saúde global”.
Distribuição espacial e agrupamento de casos notificados de COVID-19 e óbitos.
Número cumulativo de casos (A) e óbitos (B) de COVID-19 por 100.000 habitantes por município. Agrupamento espaço-temporal de casos (C) e óbitos (D) em municípios brasileiros. As tabelas indicam o intervalo durante o qual cada grupo foi estatisticamente significativo. O gradiente de cor (vermelho escuro a azul escuro) indica a mudança temporal com base na data inicial do grupo, e o número indica a classificação do risco relativo para cada grupo.
Um estudo publicado na Science por pesquisadores brasileiros e norte-americanos, de instituições como a Universidade de Harvard, Universidade de São Paulo, Universidade Nove de Julho, Universidade da Flórida, etc. aponta que a “perigosa inação e irregularidades” do governo brasileiro, “incluindo a promoção da cloroquina como tratamento”, geraram agravamento da pandemia no Brasil, aceleraram mortes e casos e levaram sistema de saúde ao colapso.
A pesquisa usou dados diários sobre casos notificados e mortes para compreender, medir e comparar o padrão espaço-temporal da distribuição entre os municípios.
De acordo com o estudo, o sistema de saúde universal do Brasil, único em nações com mais de 100 milhões de habitantes, poderia ter dado uma resposta eficaz à pandemia. No entanto, a ausência de um plano nacional de combate a doença travou a contenção do vírus.
O SUS tem uma rede com milhares se agencias de saúde, que poderiam testar, isolar e orientar a população. Mas isso não foi feito de maneira uniforme, e a resposta dos governos estaduais era tolhida pela disseminação do vírus de maneira desigual e constante.
O estudo também aponta que o coronavírus circulava no Brasil antes de ser identificado. No Ceará, uma investigação retrospectiva revelou que o vírus já circulava em janeiro. A demora em conhecer os casos se deu pela falta de testagem, avaliação dos sintomas e ausência de notificação ao Ministério da Saúde de casos suspeitos por hospitais e laboratórios privados.
No geral, a duração dos aglomerados significativos de óbitos do Covid-19 em diferentes regiões brasileiras não reduziu ao longo do tempo, indicando uma falha em conter a propagação regional. Isso é diferente do que foi observado na Coreia do Sul em outro estudo, onde a contenção bem-sucedida reduziu a duração e a extensão geográfica dos aglomerados ao longo do tempo.
Por fim, o estudo projeta um destino sombrio, de fome e miséria no Brasil se nada continuar a não ser feito agora. Os cientistas apontam que a falta de controle e identificação de novas variantes “isolará o Brasil como uma ameaça à segurança da saúde global e levará a uma crise humanitária completamente evitável”.
A pesquisa deixa claro que as ações erradas e omissões do governo federal levaram o Brasil a topo das mortes diárias globais pela covid-19 e que a capacidade do SUS foi reduzida por conta da ausência de gestão nacional. Esses erros estão entre os alvos da CPI da covid-19.
Referência de periódico: Science.
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