A história de Beren e Lúthien é inspirada na vida amorosa do próprio J.R.R. Tolkien e sua esposa Edith Tolkien. Especula-se também que Aragorn e Arwen seriam reencarnações de Beren e Lúthien.
Foto: @lendotododia
O livro “Beren e Lúthien” foi organizado postumamente por Christopher Tolkien, filho de J.R.R. Tolkien. Ele reuniu as varias versões de contos, algumas apresentadas em prosa, outras em poesia, que encontrou nos manuscritos de seu pai. O livro foi lançado em 1 de junho de 2017, 43 anos após a morte de Tolkien.
O romance de Beren e Lúthien é considerado a história mais importante do Silmarillion. O enredo se passa dentro do universo da Terra-média, na Primeira Era, muito antes dos acontecimentos de “O Hobbit” e “O Senhor dos Anéis”. E durante o fim da Terceira Era a história foi relembrada por Aragorn (o Passolargo):
“– Vou contar-lhes a história de Tinúviel – disse Passolargo. – Resumida, pois essa é uma longa história da qual não se sabe o fim; e ninguém atualmente, com exceção de Elrond, pode lembrá-la exatamente como era contada há tempos. É uma bela história, embora triste, como todas as histórias da Terra-média; mesmo assim ela pode animar seus corações. (…) É difícil reproduzi-la na Língua Geral, e o que cantei é apenas um eco rude dela. Fala sobre o encontro de Beren, filho de Barahir, e Lúthien Tinúviel. Beren era um homem mortal, mas Lúthien era a filha de Thingol, um Rei Élfico da Terra-Média na época em que o mundo era jovem.”
(Trecho do capítulo Uma Faca no Escuro, de O Senhor dos Anéis, A Sociedade do Anel).
A história de Beren e Lúthien é também inspirada na vida amorosa do próprio J.R.R. Tolkien e sua esposa Edith Tolkien. “Nunca chamei Edith de Lúthien, mas foi ela a fonte da história que, a seu tempo, se tornou parte de O Silmarillion“, disse Tolkien em seu epitáfio.
Tolkien tinha 16 anos quando se apaixonou por Edith, de 19. Os dois eram órfãos e encontraram conforto da carência um no outro. Mas o tutor de Tolkien não aprovava a relação, sentia-se incomodado por ela ser protestante, pois Tolkien era católico. Por isso, proibiu o contato entre ambos. Somente aos 21 anos, Tolkien voltou a entrar em contato com Edith, declarando-se a ela e pedindo-a em casamento.
No túmulo de Tolkien e Edith está escrito sob os seus nomes Lúthien e Beren.

Sinopse
Depois da ruína de sua terra na Batalha das Chamas Repentinas, o humano Beren, filho de Barahir da Casa de Bëor, fugiu para o reino de Doriath. Lá ele encontrou a elfa Lúthien, e se apaixonaram um pelo outro. Lúthien Tinúviel, é uma imortal princesa Sindarin (de descendência Telerin), filha única de Elu Thingol, rei de Doriath.
O pai de Lúthien, não aprovava a relação. Por isso, impôs a Beren a missão de roubar uma Silmaril, uma joia da coroa do maior de todos os seres malignos, Morgoth (Melko), para só assim receber permissão para se casar com ela. O foco central da história é a tentativa heróica de Beren e Lúthien juntos, de roubar a Silmaril do sombrio Inimigo.
Com a ajuda de um grande cão chamado Huan, Beren e Lúthien derrotam Sauron e vão a Angband, onde roubam a Silmaril da coroa de Morgoth. Porém, após muitas tormentas, Beren morre nos braços de Lúthien, depois dela prometer que o esperaria além do grande mar, após a vida.
Lúthien foi ao palácio de Mandos, guardião dos espíritos desencarnados, onde foram-lhe concedidas duas opções: Viver em um lugar onde esqueceria todas as tristezas que conhecera em vida, contudo para lá Beren não poderia ir, ou regressar à Terra Média, junto com seu amado Beren e lá viver, sem a certeza da vida ou alegria, tornando-se mortal. Lúthien, escolheu se tornar mortal para viver ao lado de Beren.
Beren e Lúthien foram bisavós de Elrond e Elros. Elros se tornou o maior rei que os humanos já viram, e foi antepassado de Aragorn após várias gerações. Elrond foi o meio-elfo rei de Rivendell e pai de Arwen, a personagem élfica que se casou com o humano Aragorn em “O Senhor dos Anéis”. Portanto, Aragorn e Arwen eram parentes distantes, inclusive, especula-se que ambos são reencarnações de Beren e Lúthien.
Trecho do poema inacabado “A Balada de Leithien”:
De Lúthien a Amada
“Tais ágeis membros não mais correrão
(Trecho “A Aventura de Beren filho de Barahir e Lúthien a elfa chamada Tinúviel o rouxinol ou a Balada de Leithian Libertação do Cativeiro“)
na verde terra debaixo do Sol;
tão bela uma donzela não mais será
desde a aurora ao anoitecer, desde o Sol ao Mar.
O seu vestido era azul como os céus de Verão,
mas cinzentos como o entardecer eram os seus olhos;
o seu manto bordado com belos lilios,
mas escuros como as sombras os seus cabelos.
Os seus pés eram rápidos como um pássaro a voar,
o seu riso alegre como a Primavera;
o esbelto salgueiro, o dobradiço junco,
a fragrância de um prado florido,
a luz sobre as folhas das árvores,
a voz da água, mais que tudo isto
era a sua beleza e bem-aventurança,
a sua glória e encanto.
Ela habitava na terra encantada
enquanto o poder élfico ainda dominava
os bosques entrelaçados de Doriath:
ninguém nunca para ai encontrou o caminho
sem ser convidado, nem a beira da floresta
se atreveu a passar, ou agitar as folhas atentas.
Para norte ficava uma terra de medo,
Dungortheb onde todos os caminhos acabavam
em colinas de sombras escuras e frias;
para lá era o domínio da Mortífera Floresta sob a Noite
na crescente sombra de Taur-nu-Fuin,
onde o Sol era doentio e a Lua pálida.
Para Sul a grande terra inexplorada;
para Oeste o antigo Oceano troava,
não navegado e sem costas, imenso e selvagem;
para Este em picos de azul empilhadas,
em silêncio envolvidas, encimadas de névoa,
as montanhas do mundo exterior.
Assim Thingol no seu belo salão
entre as altas Mil Cavernas
de Menegroth como rei vivia:
para ele nenhuma estrada mortal levava.
Ao seu lado sentava-se a sua rainha imortal,
a bela Melian, que tecia invisíveis
redes de encantamentos em redor do seu trono,
e feitiços eram postos em árvore e pedra:
aguçada era a sua espada e alto o seu elmo,
o rei da faia, carvalho e olmo.
Quando a erva era verde e as folhas longas,
quando o tentilhão e o tordo cantavam a sua canção,
ai por baixo dos ramos e debaixo do Sol
na sombra e na luz corria
a bela Lúthien a dama élfica,
dançando em vales e verdejantes clareiras.“

Deixe um comentário