Estudos demonstram que saúde pública precisa se preocupar com COVID Longa

Estudos mostram que a duração dessas manifestações (pós-COVID) podem ser sentidos até 14 meses e podem levar à perda da capacidade de trabalho, da qualidade de vida, e pode trazer um impacto futuro na sociedade e nos sistemas de saúde.

Mais da metade das pessoas que foram hospitalizadas com covid-19 apresentam pelo menos um sintoma dois anos depois, de acordo com um estudo¹ que acompanhou 1.192 pessoas que moravam em Wuhan, na China, após serem infectadas pelo vírus SARS-CoV-2 no início de 2020. As descobertas fornecem o acompanhamento mais longo conhecido dos sintomas da covid-19 até agora, com estudos anteriores abrangendo cerca de um ano.

Mais de dois terços (68%) relataram pelo menos um longo sintoma de covid seis meses após deixar o hospital, diminuindo para 55% após dois anos. O sintoma mais comumente relatado foi fadiga e fraqueza muscular.

Nossas descobertas indicam que, para uma certa proporção de sobreviventes hospitalizados da covid-19, embora possam ter eliminado a infecção inicial, são necessários mais de dois anos para se recuperar totalmente da covid-19”, Bin Cao, do Hospital de Amizade China-Japão na China.

Um outro estudo² realizado no Brasil com 641 pacientes monitorados durante 14 meses, mostrou que 50,2% apresentaram sintomas da intitulada síndrome de COVID longa, acometendo diferentes faixas etárias. Dos 23 sintomas diferentes relatados pelo estudo, “a maioria dos pacientes apresentou 2-3 sintomas ao mesmo tempo”. Os mais frequentes foram:
🔹60% dos casos tiveram infecção leve;
🔹13% moderada e 27% grave;
🔹Fadiga (35,6%);
🔹Tosse persistente (34,0%);
🔹Dispneia (26,5%);
🔹Perda do olfato/paladar (20,1%);
🔹Dores de cabeça frequentes (17,3%).

Segundo o estudo, “pacientes mais velhos tendem a ter sintomas mais graves, levando a um período pós-COVID-19 mais longo“. Os autores também encontraram uma associação entre a gravidade da infecção e a duração dos sintomas.

Os pesquisadores comentam que “os sintomas mais predominantes e duradouros foram relacionados às funções respiratórias e neurológicas, incluindo fadiga, tosse, dispneia, dor e, em alguns casos, insônia, ansiedade, vertigem e tontura, com duração de até 14 meses“. Eles discutem possíveis mecanismos por trás dessas alterações, os quais podem ter como base uma resposta imunológica disfuncional após a infecção viral.

Apesar de precisarmos de mais dados sobre a COVID longa, esses dados parecem apontar para relações entre a infecção e a resposta hiperimune, somada a alterações na coagulação. Isso pode atingir diversas partes do corpo, levando a alterações persistentes em diferentes órgãos. 

Apesar de “infecções graves serem associadas a manifestações pós-COVID-19 mais longas“, também se observou em pessoas que tiveram doença leve (60%) e moderada (13%), com sintomas persistindo por 1 –14 meses em todos os grupos de gravidade.

Como o próprio estudo conclui “a duração dessas manifestações (pós-COVID) e a prolongada distorção dos sentidos podem ser devastadoras e levar à perda da capacidade de trabalho e da qualidade de vida. Assim, a avaliação contínua é imperativa.” 

Um outro estudo³ recente, acompanhando 845 pacientes Sul-Africanos com COVID longa, encontrou que a presença de comorbidades, como hipertensão, dislipidemia (aumento do colesterol) e diabetes tipo 2 podem contribuir para a COVID longa/Sequelas pós-COVID.

Na discussão desse trabalho, os autores comentam que, avaliando um outro grupo de pacientes experienciando COVID longa, os pacientes apresentavam alterações em componentes da coagulação, os quais podem levar a danos nos vasos sanguíneos. 

Esses danos vasculares, segundo os autores, podem ser elementos importantes por trás da COVID longa/Sequelas pós-COVID e nos dar pistas para entender esses mecanismos e nos ajudar a criar propostas terapêuticas assertivas contra esses fenômenos pós-COVID.

Estes estudos reforçam na discussão de que a vacinação “leva a uma redução significativa no número de infecções, reinfecções e casos graves. Consequentemente, espera-se uma redução na síndrome de COVID longa“. A  COVID longa não deve ser subestimada, e pode trazer um impacto imenso na sociedade/sistemas de saúde.

Referências:

1. HUANG, L. et al. Health outcomes in people 2 years after surviving hospitalisation with COVID-19: a longitudinal cohort study. The Lancet. 2022. <https://www.thelancet.com/journals/lanres/article/PIIS2213-2600(22)00126-6/fulltext&gt;.

2. MIRANDA, D.A.P. et al. Long COVID-19 syndrome: a 14-months longitudinal study during the two first epidemic peaks in Southeast Brazil. National Library of Medicine. 2022. <https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/35514142/&gt;.

3. PRETORIUS. E. et al. Prevalence of symptoms, comorbidities, fibrin amyloid microclots and platelet pathology in individuals with Long COVID/ Post-Acute Sequelae of COVID-19 (PASC). Research Square. 2022. <https://www.researchsquare.com/article/rs-1205453/v2&gt;.

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